Fui recentemente a Portugal refrescar as ideias. Estava um calor do catano, por isso acho que as ideias ficaram um bocado murchas, mas passemos à frente.
Apesar de demorar apenas duas horas e meia a chegar ao meu destino no que toca a voar, chegar ao aeroporto, aqui em Londres, consome mais ou menos o mesmo tempo. Em suma, para chegar a Gatwick às cinco da tarde, saí às duas e pouco da minha zona.
Apesar de um pequeno engano por parte do meu homem no tocante ao itinerário subterrâneo, chegámos com tempo de sobra ao aeroporto, algo que eu vi como um bom sinal. A viagem vai correr bem, vamos chegar a Faro sem incidentes.
É óbvio que eu andei a descurar a minha dose diária de Marretas recomendada, porque se andasse a ver mais bonecos de peluche no pequeno ecrã lembrar-me-ia da regra de ouro: quando dizes que vai tudo correr bem é quando te começam a cair bolas de
bowling na cabeça (para melhor entendimento, é favor ver os primeiros 45 segundos
disto). Olhei para cima. Nada me acertou na pinha, pelo que achei que estava tudo ok. E, obviamente, quebrei a regra número dois - nada de respirar fundo de alívio depois de olhar para cima!
Comecei a ver problemas em todo o lado. E se a mala de portão está demasiado pesada? E se me enganei e tenho alguma coisa proibida na mala de cabine, sei lá, tipo um pequeno lémur? E se não consigo lugar ao lado do meu homem (aquele ombro dá tanto jeito como almofada) e fico ao pé de um vendedor de bíblias? E se... gah, pára com isso! Daqui a nada achas que o avião vai-se desp... calei o pensamento mesmo a tempo, não fossem os deuses das moléculas mágicas que mantêm aquela besta de ferro com asas no ar brincar comigo.
Feito o
check-in, comprado o iPod e comido o sushi em terra, foi altura de entrar no avião. Sentei-me num lugar perfeitamente aleatório (mais ou menos - eu tento sempre topar onde andam as criancinhas para fugir delas) e agora era só esperar duas horas e meia.
Estão a ver onde isto vai parar, certo? A Faro, dirão os mais atentos e ingénuos. À chatice, dirão os perspicazes. Estamos no ar há uma meia hora, quando o meu homem se vira para mim e pergunta: "olha lá, tu que és psicóloga e coiso, o que farias com um tipo que começasse a ter um ataque de pânico?" Eu levanto os olhos do livro que estava a ler e respondo, com o meu melhor ar profissional: "um par de estalos.""Então aquece a mão, que acho que vais precisar."
Fiquei a olhar para ele, sem perceber muito bem de onde raio vinha aquilo. Ele sugeriu que eu olhasse para o banco atrás do dele, para me esclarecer. E esclarecida fiquei - lá estava um fulano a hiperventilar e a bater no banco da minha cara-metade, enquanto coçava freneticamente o alto do escalpe e jurava que ia ter um ataque de coração ali mesmo.
Olhei para cima, esperando a bola de
bowling na tola. Nada. Isto ia-se transformar numa loooonga viagem.
Volvidos quarenta e cinco minutos de vôo, o avião começa a virar. Oh alegria, íamos regressar a Londres! Havia um médico a bordo, que se limitou a passar os dedos à frente da cara do homem e perguntar-lhe quantos via (um diagnóstico super científico e digno de seis anos de faculdade). Os assistentes de bordo iam-se revezando e lá iam pedindo ao homem que não morresse a bordo, que senão começava a contaminar o ar enlatado do avião (podem ter dito outra coisa qualquer, já não me lembro bem).
Aterrados em Londres novamente, tivemos que esperar que os paramédicos tirassem o tipo do avião. Tivemos que esperar que tirassem a mala dele do porão. Tivemos que esperar para voltar a abastecer o tanque. Tivemos que esperar na fila para voltar a levantar vôo. Eu tive que esperar quarenta minutos para mijar.
Por fim, postos de novo a caminho, desta vez já sem mais incidentes, tivemos a segunda aterragem, desta vez em solo lusitano, duas horas e meia atrasados. Que bom.
O melhor de tudo, a minha cereja em cima do bolo, foi já estar em casa da minha mãe à conversa com o meu rapaz, quando ele olha para mim com um ar estranho e refere que tenho sangue na cara. Quase lhe respondo que todo o meu corpo tem sangue, que coisa estúpida, quando ele aponta o facto de este estar do lado de fora do invólucro habitual. Pela primeira vez na minha vida, sangrava do nariz. Obrigada, gajo histérico a bordo do meu avião.