Querido Coelhinho da Páscoa,
Este ano borrifei-me para o Pai Natal e escrevo-te a ti*. É indecente como nunca ninguém se lembra de ti nesta época, por isso cá estou eu para colmatar essa falha. Já sabes, aceito ovos como prenda de agradecimento. Grata.
Espero que tenhas feito a tua lista de Natal e que te tenhas portado bem todo o ano. Aposto que o tio Sócrates se lembrou de ti e te vai oferecer um Magalhães. E o que é um Magalhães, perguntas tu? Um belo pisa-papéis! Sorte a tua.
Querido Coelhinho, com esta crise toda, governas-te só com os ovinhos? Tenho quase a certeza que te vi um destes dias a vender cautelas no Cais do Sodré, aquele rabinho felpudo não engana ninguém! Não te esqueças que isso de trabalhar na Páscoa conta como serviço público, por isso deves ser funcionário público, não? Ena pá, que sorte tens! Podes pedir um daqueles subsídios bestiais do titio Sosó!
Ah, outra coisa: não te esqueças de aquecer bem as pernas antes de te pores aos saltinhos por aí, porque podes fazer uma luxação e isso era chato. Sim, porque tu já não deves ser novo, aos anos que ouço falar de ti, cá para mim, pintas o pêlo para parecer mais novo! Se te magoares, por favor não compres um carro, ouvi dizer que para isso tens que pedir um empréstimo, e os senhores dos bancos já não têm guito para mandar cantar um cego. Além disso, ter carro está fora de moda, mas podes sempre pedir ao barbichas natalício para te emprestar o dele.
E pronto, Coelhinho. É esta a minha singela cartinha para ti. Desejo-te um bom Natal, se tiveres namorada podes passá-la a dar uns milhares de cambalhotas (porque o Pai Natal lhe vai dar um trampolim, seus prevertidos)! A gente vê-se na Páscoa e, já agora, convida o Pai Natal para aparecer. Sempre quero ver se ele aguenta aquela fatiota com tempo mais quentinho...
Beijinhos da tua amiga,
Eu
*- Na verdade, tenho o barbichas trancado na minha arrecadação. São todas para mim, as prendinhas!