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terça-feira, 22 de junho de 2010

Vigília e etc.

No post anterior, anunciei que ia a uma vigília para ajudar os cães e gatos que são diariamente despejados no Canil Municipal de Lisboa. Acabei por não ir nesse Sábado, por razões fantásticas e maravilhosas (not!)

Há certas coisas sobre as quais nem sempre me apetece escrever, sobretudo porque é difícil espremer o humor delas, e eu gosto que este blog seja um escape pateta à realidade chata e não um querido diário de desgraças quotidianas.

Uma das coisas que ainda não mencionei é acerca de um dos meus gatos. Não são boas notícias, mas podiam ser piores.
Tenho um gato insuficiente. Seria giro se ele fosse insuficientemente peludo, ou quiçá patudo, mas a sua insuficiência é mais de natureza interior e mortal: o bicho é insuficiente renal. Isto quer dizer que os seus rins não depuram a proteína dos alimentos e que ficam toxinas acumuladas no seu sistema.

Uma das formas de ajudar o gato é dando-lhe soro. Todos os dias, cá em casa, prepara-se o estaminé para o bicho levar com três horas (três!) de soro fisiológico endovenoso. Para ser sincera, é de rir: como não temos equipamento médico-pretensioso, temos que usar um baixo (o instrumento, não uma pessoa anã) em cima de um sofá, segurar o bicho no colo e rezar para que ele não chateie durante 180 minutos. Alegria.

No dia da dita cuja vigília, tive que pedir à pessoa com quem ia para me ajudar com o soro. Esta amiga é uma pessoa que, de vez em quando, fica atolada de trabalho e fico sem saber dela durante uns cinco meses. A última vez que a convidei para jantar cá em casa, fiquei eu e o rapaz doentes do estômago e já circulam rumores de que ela é uma ave de mau agoiro. Mas eu gosto de sofrer e, por isso, lá continuo amiga dela.

Cá veio ela ajudar-me com o soro. Correu relativamente bem, com ela a segurar o animal no colo, eu a tentar desentupir a veia enquanto ela cerra os olhos como se não houvesse amanhã (ela tem medo de agulhas) e depois a tentarmos convencer o felídeo de que estar quieto três horas seguidas é bué de fixe.

Quando o assunto ficou finalmente arrumado, esta amiga resolveu ter a indecência de ir fazer um xixizinho. Porquê indecência? Lembrem-se que ela é a minha ave de mau agoiro pessoal. Está ela a sair da casa-de-banho, quando a oiço berrar por mim: "Oh Leonor, o persa não se aguenta em pé, anda cááá!"
Lá fui eu, sem saber muito bem o que aquilo queria dizer, para chegar e ver o pobre do gato velhote a ter um ataque epiléptico. Metia dó ver o bicho a contorcer-se no chão. Fiz o que sabia: massagem cardíaca, que não deve ser exactamente o antídoto para a epilepsia, mas pronto. A coisa passou.

Ora, a vigília deveria começar em breve, mas eu tinha um gato insuficiente e um gato epiléptico a recuperar em casa! O que raio fazer?! Martirizar-me acerca de não ir e vigiar o velhote de cinco em cinco minutos pareceu-me boa ideia e foi isso mesmo que fiz.

(Reparem aqui que a minha Ave de Mau Agoiro já fez das suas. Mas ainda não acabou!)

Depois deu-me a fome. Não havia nada de jeito em casa e acabámos por ir, os humanos cá de casa e a amiga, a uma gelataria aqui ao pé para comer uma tosta. Soube-me imensamente bem, que a fome era negra.
De caminho de volta, começa-me a doer a cabeça de uma maneira que mais parecia estarem-me a apertá-la com um torniquete. Eh pah. Será a descarga de adrenalina? Porra, isto dói. Despeço-me da amiga e vou para casa com o rapaz. O coração bate depressa. Será do amor que está no ar? Porra, que bate depressa e piora-me a dor de cabeça.

Meia hora depois... tah-dah, uma reacção alérgica! Fico vermelha, vermelha, vermelha, acho que uma tarde ao sol sem protector não faria melhor. Do decote para cima, faço homenagem aos índios. Rezo para não inchar.

Não inchei. Prometo que tinha tirado fotos para colocar aqui para efeitos científicos. A minha cara-metade ficou intestinalmente desarranjada e eu, gradualmente, depois de dois anti-histamínicos, lá fui deixando a tripo dos peles-vermelhas.

Agora eu pergunto: sou eu que tenho azar ou é a minha amiga que me faz mal?!

(Fofa, se leres isto, sabes que gosto muito de ti. E, se te sentires culpada pelas porcarias que me causas, oferece-me uma tostadeira. Estou a precisar de uma. Grata e beijinhos.)

sábado, 19 de junho de 2010

Eu sei, eu sei...

Tenho andado pouco por aqui. Tenho boas razões! Estou na recta final de um projecto importante (que depois partilharei), que me ocupa bastantes horas por dia, e a coisa tem-se arrastado. Prometo em breve continuar com as curiosidades da minha viagem do mês passado, que ainda tem sumo para espremer.

Numa outra onda, hoje vou a uma vigília em prol dos animais do Canil de Lisboa. É uma vigília que se processa em turnos de quatro horas cada e escolhi um turno mais ou menos morto, para ter a hipótese de pôr a conversa em dia com os meus companheiros de espera. Os cães e gatos merecem o frio que vou rapar e a figura triste que vou fazer de colete reflector.

Acham que pegava a ideia de montar uma banquinha de piercings expresso enquanto lá estou? Tipo as bancas dos cachorros-quentes...? Até podia oferecer um pãozinho com cada agulhada... Digam de vossa justiça.

sábado, 5 de junho de 2010

Ovinhos, Senhor

Ontem à noite, a minha cara metade anunciou que tinha fome. Como era tarde e não havia comida pronta disponível, ele disse que ia preparar qualquer coisa e ia-me incluir nos planos, como o lindo menino que é (eu gosto de gozar e dizer que ele quer é ver-me gorda. Coisas de gaja.)

"Preparar qualquer coisa," àquelas horas, normalmente, quer dizer "ovos." Mexidos, estrelados, quiçá escalfados (não, nunca aconteceu), Ovos é o prato preferido dos esfomeados nocturnos deste lar.

Como eu estava ocupada com qualquer coisa importantíssima (um filme da treta ou assim), fiquei na sala, enquanto o meu namorado fazia a sua magia culinária na cozinha. Decorridos uns dez minutos, aparece ele com um prato de sopa com os famosos ovinhos mexidos, cozinhados com margarina, como eu gosto.

Ele senta-se ao meu lado, com prato igual. Espeto o garfo num bocado de ovo e levo-o à boca. Estranho, o rapaz deu em inventor a desoras e juntou limão à comida. Fica meio estranho, mas nada de horrível.

Ponho outro bocadinho à boca e volta a saber-me a limão, desta vez mais forte. Algo se faz luz na minha cabeça e tenho que perguntar:

- Fizeste os ovos na frigideira que estava no fogão?

- Sim, - responde ele.

- Lavaste-a primeiro?

- Sim! - Mesma resposta, com orgulho.

Não consigo suprimir uma gargalhada, e claro está, ele olha-me como se eu tivesse enlouquecido.

- Lavaste-a como?

- Limpei a água que lá estava com um bocado de guardanapo e passei a frigideira por água.

Desta vez já me vinham as lágrimas aos olhos. Questiono-o acerca da quantidade de comida que ele já comeu, entretanto, na cozinha, e ele diz-me que já foi alguma. Se ele notou algum sabor estranho. Nem por isso, diz-me. Esta conversa demorou algum tempo, porque o riso não me deixava falar coerentemente.

Depois, vem a pergunta lógica dele: porque me perguntas isto?

- Porque... porque... a frigideira estava carregada de Fairy Limão!

A cara dele é imperdível. Aparentemente, ele já tinha comido um bocado de ovo no pão. Sabia-lhe a limão, mas nem pensou muito no assunto.

- Bem, - digo eu, a chorar de divertimento, - pelo menos ficas limpinho por dentro!