Aqui há uns dias decidi que precisava de roupa. Sabem, aqueles instintos primários que costumam dar de quando em vez às fêmeas, como se de uma questão de sobrevivência se tratasse. Enfim, sentindo o apelo à roupagem extra, lá parti em busca de um item que se me tinha aflorado à mente durante sonhos - umas calças abaixo do joelho.
(Aqui, quem me conhece, já deve estar a remexer as facas na cozinha à procura de um cutelo bem afiado, porque calças como as descritas foi coisa que eu sempre disse nunca, jamais em tempo algum, pensar sequer em usar. Pronto, olhem, mudei de ideias. Ao menos, regalem-se, tinham que ser pretas e não cor-de-rosa. Ainda não me rendi à dita cuja cor desmaiada e pateta.)
Lá parti, rumo ao meu destino óbvio, um centro comercial. Pus os olhos nas montras, qual predadora esfomeada, à procura do objecto dos meus desejos. E, pasmem-se, vi o que queria! As calças ornavam as pernas de um manequim de plástico, por baixo de uma saia de ganga com grandes parecenças com um cinto mais ou menos grande. Entrei na loja.
Escolhi o meu nº (34) e entrei nos provadores. De início pareceu-me que ia ter problemas, as calças pareciam não me servir, mas depois lá se vergaram à minha insistência e pof, vesti-as. Ficavam benzinho. Ficavam mais ou menos. Ficavam mal. Ficavam até aos tornozelos! Raios partam.
Saí da loja com um sentimento de missão não cumprida que ainda me aumentou mais as ganas de comprar o raio das calças. Estava em modo sanguinário e não ia deixar desaparecer a presa! Rumo à próxima montra.
O que vale é que a moda tem destas coisas interessantes, todas as lojas querem ser diferentes e tal umas das outras, mas têm sempre o mesmo tipo de porcarias. Que bom. Entrei na Zara e, supresa!, encontrei o que procurava! Ala para os provadores. Experimento as calças e... adivinhem: sim, ficava pelos tornozelos...
Decidida a não desanimar e, tendo em conta que os tornozelos já eram uma melhoria em relação à experiência anterior, arquitectei um plano, resultado de uma epifania. Ora acompanhem o meu raciocínio: quero calças; encontro-as; não me servem aqui, vou ali: não me servem, mas estão melhor; o defeito tem que ser das lojas e não meu; ok, admitamos, a secção de criança deve ter o que procuro. *suspiro*
Pedi a uma menina da secção de crianças umas calças como eu queria. Ela nem pestanejou com o meu pedido, o que me deu alento para continuar. Deu-me um par para jovens dos 11 aos 13 anos de idade. Perfeito, pensei, umas calças que combinam com a minha idade mental. Provadores comigo.
Não me serviam! Eram, pasmem-se, demasiado LARGAS. Há direito?! Fui buscar outras, para crianças dos 9 aos 11 anos, só para tirar as teimas. Desta vez quem se pasmou fui eu: serviam-me perfeitamente...
Engoli o orgulho e comprei o raio da peça de roupa, como quem não quer a coisa. Confesso que andei a ler o rosto da funcionária que recebeu o dinheiro, para ver se notava algum resquício de escárnio, mas nada. Acho que trepava o balcão e... e... fazia birra como uma menina de 9 ou 11 anos.
Mas pronto, moral da história? Sou uma alta e espadaúda mulher cujas enormes proporções físicas fazem invejar Giselles e Claudias e Naomis. Tenho dito. Ah, e reparem que fui esperta e não me referi à Kate, que essa deve-me fazer concorrência, não em altura, que a desgraçada é mais alta que eu, mas pelo menos em peso... Drama.