Todos os meninos e meninas pequeninos já leram, ou lhes foi lida, a dada altura na sua vida, uma "história de encantar". Princesas lindas, príncipes heróicos, aventuras excitantes que, apesar de todos os perigos, acabam sempre em bem - que é, como quem diz, num "viveram felizes para sempre".
Ora, quem conhecer o meu passado sabe que eu vivi bem mais os desenhos animados Manga e sucedâneos do Dragon Ball do que o amigo La Fontaine e seus coleguinhas, fruto da vivência na China. Assim sendo, confesso que tive pouco contacto com príncipes e princesas e magias de encantar (embora as animações do Sr. Disney da Bela Adormecida e coisas dos Marretas me tenham mantido minimamente actualizada). Na altura, a bela frase do fim de cada história soava-me sempre bem, natural, bonita: toda a gente, afinal de contas, vivia feliz para sempre, certo?
Errado! E aí é que está o meu protesto. Quem é que raio se lembrou de oferecer às criancinhas fantasias que depois não se concretizam na vida real? Afinal de contas, há imensas pessoas pelo mundo fora que, em jeito de mentalidade americana legal (leia-se "parva") vão achar que o La Fontaine foi lesivo na sua formação de vida e vão querer processar o senhor por obra danosa e exigir uma indemnização pelos anos de vida mágica perdidos. E lá se vai revolver ele na tumba, o pobre.
O facto é que, na vida real, não há príncipes. Os homens não aparecem em cavalos brancos. O primeiro beijo, depois de todos os perigos e afins passados, não garante a resolução de todos os problemas, nem o amor aos 16 anos de idade será para a vida toda (ah pois é, Aurora, sua gaja adormecida!) As meninas não são da realeza, não são todas desamparadas ou lindas de morrer, nem se faz sempre Justiça. A vida real, quando é vivida em pleno, está cheia de alegrias, sim, mas também as desilusões fazem parte dela.
Deste modo, sugiro aos criadores modernos destas historiazinhas ditas "de encantar" (ou "de enganar", digo eu) que façam umas adendas no fim, em estilo de etiquetas de aviso nos electrodomésticos americanos:
- O príncipe, na verdade, cheira mal dos pés e dá um peidinhos mal-cheirosos de vez em quando;
- A princesa sofre de SPM e vai acabar por engordar uns quilinhos valentes dali a cinco anos;
- Os sogros de ambos são uns chatos e vão fazer visitas constantes ao casal, azucrinando-lhes e paciência com frequência;
- A internet não existia nestes tempos, nem a televisão ou o rádio, pelo que ou as pessoas se entretinham a bordar coisas foleiras ou a arranjar desacatos para ter duelos;
- O irmão do príncipe é bem mais giro que ele e a princesa vai-se arrepender de ter escolhido tão cedo;
- O príncipe tem a fantasia de ver a sua esposa com outra aia, levando um estalo na cara e dormindo no sofá sempre que o sugere à princesa.
"Viveram felizes para sempre"... tal como na vida real.
A Gerência não se responsabiliza pelos danos causados aos Tribunais americanos ou de outra nacionalidade; contudo, caso haja algum processo instaurado que resulte em indemnização, a Gerência informa que quer 50% dos lucros - afinal de contas, a ideia toda xpto veio deste maravilhoso (esse sim, mágico!) blog.