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sábado, 12 de maio de 2007

Quanto vale o teu canudo?

Como já todos saberão, o nosso Governo decidiu criar o programa Novas Oportunidades, que se destina a valorizar o percurso profissional do português que, por uma razão ou outra, não perseguiu um percurso académico universitário. Este programa, embora louvável na sua teoria - se não tens um canudo mas sabes muito da tua área de trabalho, então a malta dá-te uma certificação toda gira e oficial, para pendurares na parede da casa-de-banho (que é, na minha opinião, o melhor local para exibirmos os nossos louros académicos), além de te ajudarmos a estudar mais e saberes mais. No fundo, é pôr o lusitano menos habilitado a estudar. Isto parece bem, certo?

O que me desgostou - e a muita mais gente, a avaliar pelos comentários jornalísticos que li um pouco por toda a parte - foi a forma como o Governo tentou mostrar que estudar mais é giro e fixe: pegou em meia dúzia de celebridades nacionais e pô-las em profissões menos qualificadas, expressando que seria nesse lugar que estariam hoje na vida caso não tivessem estudado mais. Toda a gente conhecerá o cartaz com a cara da Judite de Sousa, jornalista, sentada detrás de uma banca de jornais. A frase de ordem é "Esta é a Judite que não estudou."

Ora, isto é tudo muito bonito, na teoria, mas irrita-me por duas razões fundamentais:
  1. Porque carga d'águas nos faz crer a nossa força política no poder que ser vendedor de jornais num quiosque, ou jardineiro, ou empregado num cinema, é ser menos? Não são essas profissões dignas e necessárias, tais como a do investigador ou do lixeiro? Estará o Governo a mostrar-nos que, de facto, continuamos num país onde quem é gente é o "doutor" e o "engenheiro" e o resto é paisagem?
  2. Eu tenho um canudo. Esforcei-me por ele. Sou psicóloga num país em crise, onde as pessoas estão insatisfeitas e, se calhar, mais do que nunca, beneficiariam dos serviços de gente na minha profissão. E sabemos que pessoas a precisar de nós é o que mais há, não há é a vontade e a disponibilidade financeira para usufruir desses serviços... E cá estou eu a tentar trabalhar na minha área, sem conseguir, vendo-me forçada a ocupar um lugar menos "qualificado" que tiro a uma pessoa que escolheu estudar menos do que eu. Fico eu insatisfeita e essa hipotética pessoa desempregada.

O que me remete para a pergunta final, aquela do milhão de Euros (quem me dera, quem me dera): Sr. Primeiro-Ministro, visto que ter menos que uma licenciatura é ser Ninguém nesta terra, e estudar mais é que nos garante empregos, isso quer dizer que a culpa da minha falta de oportunidades é toda minha, certo?

E ainda há-de haver quem me diga que este post não é humorístico...

1 comentário:

Lux Caldron disse...

"quem é gente é o "doutor" e o "engenheiro""...eheh. então isso quer dizer k o sr.Socrates hipotéticamente e segundo noticias um pouco (ou talvez nada) duvidosas não é gente?
Bem me parecia...