Recebi um GPS pelo Natal. Finalmente, a minha mãe admitiu que me falta rumo e ofereceu-me uma coisinha para melhor me orientar por essas estradas fora. Cá fico à espera do génio que invente uma engenhoca semelhante para o cérebro também.
Um GPS, quer-me parecer, vai ser o próximo telemóvel. Que é, como quem diz, um daqueles objectos sem os quais vivemos descansadamente a vida toda, até o termos, e depois perguntamo-nos como pudémos sobreviver sem o dito.
Resolvi dar um saltinho a Sevilha para testar o modus operandi do novo brinquedo (ai, os sacrifícios que faço em nome dos fabricantes de tecnologia de ponta!) e descobri que, efectivamente, é muito mais fácil ter uma tipa a dizer-me onde e quando devo virar para chegar a um dado local. Contudo, vou confessar que me senti um pouco como um gajo que não gosta de pedir indicações e, ainda por cima, tem uma voz feminina a dizer-lhe por onde deve ir. Não tive aquela sensação de "sou mesmo inteligente, cheguei viva a este local que não faço ideia onde é, mas não é no fundo de um rio e só isso já me deixa louca de alegria." Foi, antes, uma sensação de conquista fácil, tipo engravidar indo ao banco de esperma em vez de arranjar um parceiro.
Ali estava aquele monitorzinho a mostrar-me a morfologia da estrada onde me encontrava (ainda bem, porque eu, olhando para a estrada, nunca saberia, oh potente máquina!) e, para quem é muito estúpido, lá tinha, a verde, a direcção para onde tinha que virar...
Mas não quero que pensem que não gosto do GPS. Adoro-o. Poupa-me o trabalho de pensar muito (olá Alzheimer precoce), não tenho que pedir indicações a quem sabe menos que eu e posso fazer boa figura em qualquer país da Europa Ocidental, seja de carro ou a pé.
Contudo, acho que faltam umas quantas funcionalidades à geringonça. Quer dizer, não é que faltem no sentido de serem indispensáveis, mas acho que podiam ser uma mais-valia para qualquer utilizador. Espero que esteja, algures, um fabricante de GPSs a ler este blog, porque aqui se seguem umas ideias que valem ouro:
- Se nos enganarmos, o GPS não devia ficar impávido e sereno. Deveria haver o modo "esposo" ou "esposa", para aqueles que viajam sozinhos mas têm necessidade de companhia, que nos gritasse, sempre que virássemos no local errado: "Mas és estúpida? Eu não te disse que era nesta rua? Avisei-te há QUINHENTOS metros, pelo amor dos santos! É sempre a mesma porcaria! Mas porque te deixo conduzir?!"
- Caso o GPS tenha a funcionalidade nº 1, sugiro que também seja à prova de choques.
- Sem nos avisar, o GPS devia obrigar-nos a fazer desvios só porque há ali, a uns meros 100kms, uma fontezinha milenar mesmo gira, mesmo que tenhamos deixado claro que temos pressa. Afinal de contas, quando morrermos, é este tipo de recordações que levamos para a cova.
- Se estivermos num troço de estrada particularmente difícil, o GPS devia obrigar-nos a fazer um Sudoku antes de nos dizer onde temos que ir a seguir. Uma vez mais, observar a funcionalidade nº 2.
- Se estivermos parados há mais que dois minutos no trânsito, o GPS devia cantar para nós. Sugiro a minha amiga Sónia como voz (por favor, observar MESMO a funcionalidade nº 2!)
- A fim de nos ajudar a enquadrar melhor nas culturas dos países visitados, a língua do GPS devia mudar para a do país onde estamos. Além disso, frases vernáculas deveriam ser acrescentadas, para nos imiscuírmos melhor com os habitantes locais.
- Dói-me a cabeça.
Eu sou uma pioneira e os anos dar-me-ão razão...