Já todos ouvimos, ou demos, esta famosa (e esfarrapada) desculpa quando éramos meninos e meninas pequeninos. Quer atribuíssemos as culpas ao cão, ao gato, ao papagaio ou ao Abominável Homem das Neves - ou, como eu fazia, sendo filha única, aplicando inteligentemente o argumento do "menino que acabou de passar por aqui", sabe-se lá de onde -, o que é certo é que esta desculpa era uma tentativa desesperada de mostrar uma inocência inexistente, ou de disfarçar uma preguiça irresistível.
Enfim, é daquelas coisas que remetemos para o passado e que nos dá vontade de rir, mas que não nos passa pela cabeça ouvir da boca de gente adulta (a não ser que esteja estupidamente alcoolizada, mas aí remetemos a redução de argumentos ao seu estado de morte constante de neurónios).
Contudo, meninos e meninas, eis que acontece um episódio equestre (ou equino, como lhe chamar?) a uma pessoa que me é próxima, que vos passo a relatar, e que faz pensar nestas coisas do insólito -
truth is stranger than fiction e há coisas levadas da breca que realmente ocorrem nesta Terceira Dimensão que é o nosso país...
Passo a relatar: ia o jovem em questão a conduzir o seu veículo automóvel, quando foi acometido de uma necessidade de efectuar um telefonema. Tendo um
bluetooth que lhe permitia fazer chamadas mãos-livres, ignorou a sua existência (ai, o menino mal-comportado!) e toca a ocupar uma mão com o objecto de telecomunicação.
Aquando da conversa, eis que repara num par de sujeitos a cavalo, na estrada, como quem ali está para passear o seu bobi em versão equestre - uns amigáveis senhores da Guarda Nacional Republicana. "Agentes da autoridade!" Numa fracção de segundo, o meu amigo atira o telemóvel para o chão do carro, fingindo que nada se passava e tal (e aqui ficava bem adicionar à trama uns assobios, como se vê nos desenhos animados. Vamos dizer que ele assobiou, mesmo sem saber se o fez. Fica giro.)
Deu-se a indomitável e fabulástica perseguição cavalo-carro, cheia de acção e
suspense: homem com o pé no pedal, homens com os pés nos flancos. A golpe de apito, o jovem acabou por ser, nas suas palavras, "dominado" pelos polícias e encostou.
Segue-se cena de filme, o condutor a baixar o vidro do carro, o polícia montado no cavalo a aproximar-se e estacionar-se ao lado.
"O senhor ia a falar ao telemóvel?"
"Eu?", pergunta o visado, fingindo indignação. "Isso seria absurdo, dado que tenho um dispositivo
bluetooth, não preciso de mexer no telemóvel." Achando que este seria o argumento fatal que terminaria a teima do GNR, certo que tal iria fazê-lo pensar que tivera uma alucinação, o condutor saca do objecto em questão e mostra-o, glorioso, ao polícia, mão fora da janela do carro.
O cavalo olhou para aquilo e, parecendo-lhe bem, comeu-lhe o
bluetooth.
O jovem, ainda atónito pelo súbito desaparecimento da coisa que tinha na mão, só conseguiu perguntar ao polícia um "e agora?", ao que este responde "olhe, agora lamento imenso" (ao invés de nos emocionar com um "olhe, espere umas horas e pode ser que o veja de novo, se tiver coragem e espírito explorador").
Enfim, a coisa ficou-se por ali. Nem multa, nem
bluetooth. O condutor nem quis anotar o nome do equino em questão, para lhe exigir uma restituição do objecto comido sem dó nem piedade, apenas se foi embora com a ideia que aquilo teria sido das coisas mais bizarras a acontecer-lhe na vida. Bizarro sim, cómico, muito!
E, assim, aqui fica uma nova sugestão de desculpa a dar, substituindo a antiguinha e obsoleta, que nem sequer faz menção às novas tecnologias...