Aqui vai um exemplo, por mim vivido, para vosso gáudio.
(O que vale é que gosto da minha pátria, senão em vez de rir, chorava...)
EU: Bom dia, estou a telefonar para saber como posso fazer para ser voluntária/funcionária na vossa instituição.
OUTRO LADO: Isso não é neste número que tem que perguntar [este era o número para onde quem precisa dos referidos serviços liga]...
E: Sim, eu sei, peço desculpa, mas pedia-lhe que tivesse a gentileza de me encaminhar para o número apropriado, dado que o vosso cartaz não o indicava.
OL: [hesitando] Vou-lhe dar o contacto do Gabinete.
E: Grata.
(Ligo para o outro número)
E: Bom dia, estou a telefonar para saber como posso fazer para ser voluntária/funcionária na vossa instituição.
OL: [secamente] Isso não é aqui.
E: [suspirando e tentando ignorar a respiração enfadada da senhora no bocal do telefone] Importa-se de me encaminhar para o contacto apropriado?...
OL: Isso é com a Secretaria. Vou passar.
E: Obr... [interrompida pela musiquinha clássica institucional de espera]
(na Secretaria atendem, ao fim de cerca de 3 minutos de espera)
E: [sentindo-me um atendedor de chamadas] Bom dia, estou a telefonar para saber como posso fazer para ser voluntária/funcionária na vossa instituição.
OL: Isso não é aqui que tem que perguntar, tem que ligar para o atendimento!
E: Mas eu liguei para esse número primeiro e disseram-me que era aqui...
OL: Não não não, é mesmo lá, mas com o outro número que aparece no cartaz. Encaminho?
E: [proferindo impropérios mentalmente] Se fizer o favor...
(mais 3 ou 4 minutos de espera e a fatídica musiquinha)
E: [sem comentários...] Bom dia, estou a telefonar para saber como posso fazer para ser voluntária/funcionária na vossa instituição.
OL: Mas isso não é aqui, tem que ligar para o Gabinete.
E: Olhe, eu sei que isto não é problema seu, mas... [respiro fundo, para não causar má impressão com desabafos menos de boas famílias] NÃO me encaminhe para o Gabinete! Eu liguei para o número no vosso cartaz, de lá mandaram-me para o Gabinete, depois para a Secretaria, depois para aqui, e agora quer-me mandar de novo à estaca zero?!
OL: [hesitando e tentando soar institucional - ser funcionário público, mesmo voluntário, exige um certo perfil, obviamente] Mas este número não serve para o tipo de informações que deseja.
E: E a sua solução é mandar-me de novo para um local onde, dez minutos antes, me disseram ser o errado?
OL: [hesitando novamente] Importa-se de aguardar? Vou perguntar a alguém o que fazer.
E: [pensando o fantástico que é a hierarquia institucional] Com certeza...
(DEZ minutos depois, com aquela musiquinha que já se me entranhava nos poros)
OL: Olhe, desculpe, isto está demorado, importa-se de esperar mais um bocadinho?
E: [inspiro fundo e conto até dez muito depressa] Com certeza...
(mais cinco minutos depois)
OL: Vou-lhe dar um número, tem que ligar para lá a pedir informações, mas só para a semana, que a Dra agora não está.
E: [desejando saber qualquer coisa de Tantra, para ter aquela paciência milenar] Muito obrigada.
Tendo em conta que a última jovem que me atendeu conseguiu fazê-lo porque estaria a desempenhar as funções que eu almejo, eu pergunto: ela apareceu ali por obra e graça? É portadora do segredo do "como entrar num trabalho de voluntariado"? Tem medo que eu seja da Al-Qaeda?
Engº. Sócrates, ainda bem que nos é complicado ser voluntário neste país, caso contrário, já viu a quantidade de gente que se oferecia para ajudar? Seria o fim do mundo...
1 comentário:
Deixa estar... eu estou a tentar fazer voluntariado há mais de um ano numa instituição e depois de três acções de formação (duas implicaram abdicar das minhas noites e sábados) e múltiplas reuniões, o projecto continua sem arrancar, porque falta dinheiro e por tricas internas...
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