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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Alucinações de uma insónia sem apelo

São três da manhã. Não consigo dormir. Resolvi ser produtiva, e aproveitei para lavar a loiça toda do jantar que me tinha dado preguiça de lavar há quatro horas atrás. Era muita loiça. Pensei que isso fosse resolver o meu problema, mas nada. Então, aqui estou eu, a escrevinhar disparates. Já que não consigo dar o descanso merecido aos meus neurónios, também os vou massacrar espremendo ideias idiotas a horas impróprias. Toma lá.

Enquanto labutava com os lençóis, pus-me a pensar em coisas várias. Uma delas, pasmem-se, foi mais ou menos a solução para o sentido da vida. Bem, sentido da vida, vida, se calhar não era, mas seria uma coisa assim mais para o empresarial. Mais concretamente, prendia-se com as relações funcionário/patrão, e como seria possível melhorá-las de forma gigante se seguíssemos uma série de passos simples, em jeito National Geographic.

Aqui há uns dias, estava eu a ver um programa sobre animais, e vi um homem que treinava cães surdos. Se tiverem um cão surdo, e se ele se afastar de vocês, não o podem chamar de volta gritando o nome dele, por razões óbvias. Ora, o treinador tinha uma forma fabulosa de o animal prestar mais atenção, mesmo ao longe: luvas extra-grandes. A ideia é que mãos maiores fazem o cão sentir-se mais feliz e seguro, por causa de umas coisas que eu na altura não prestei atenção. O treinador fez a dona do cão calçar umas luvas brancas, aí uns três números acima do seu, e pô-la a chamar o cão com gestos efusivos. O cão veio logo a correr, feliz da vida. Funcionou!

Então, aqui temos o passo 1:
-- Sempre que precisar de cumprimentar o chefe, calce umas luvas gigantes e acene como um parvo. Não precisa de emitir sons, porque estes apenas servem para distrair. O patrão virá a trote e terá toda a sua atenção. A dele e, provavelmente, a de uns seguranças simpáticos também.

Tive uma supervisora, num dos meus últimos empregos, que senti ter imensa dificuldade em apontar os erros de trabalho ao novato e ajudá-lo. Pura e simplesmente, sentia que, se eu tivesse feito alguma coisa mal, ela sabia corrigir a primeira vez, mas depois, se eu me voltasse a enganar, ela já ficava calada, com uma certa expressão de aborrecimento, um pouco como nas relações no casal heterossexual: “Querida, está tudo bem?” “(voz irritada) Está tudo óptimo!” “(Alívio) Ah, ainda bem.” E os erros, claro está, tinham grande potencial para continuarem a dar-se.

Uma vez mais, lembrei-me dos treinadores de animais, e chegámos ao passo 2:
-- Se estiver a notar que o chefe não lhe diz alguma coisa, optando antes por esperar que que perceba por si, magicamente, o que correu mal, dê-lhe com o jornal e diga: “Chefe mau! Chefe feio! Chefe tem que explicar!” O chefe entenderá imediatamente as injustiças que andou a cometer no passado e dar-lhe-á uma prenda apropriada. Sim, o despedimento é uma prenda apropriada. Afinal de contas, ninguém com ideias assim tão originais deve ter que trabalhar nessas horríveis condições.

Quando o casal discute, se a coisa fica feia, a mulher começa a gritar com o homem se ele lhe toca: “Tu não me toques! Não te atrevas a tocar-me!” Como se o tocar fosse a ofensa extrema. Podes berrar comigo, podes partir a loiça, mas ai de ti se me tocas. Nunca percebi isso, sinceramente, mas depois pus-me a pensar, e a coisa até é capaz de ter um fundo de razão. Senão, ora pensem comigo: que sentido faria uma mulher dizer “Adalberto, vou-me chatear a sério contigo, vamos discutir à brava, mas por favor coloca a tua mão na minha mama direita enquanto berramos um com o outro.” Realmente, não faz muito sentido, pois não? Só prova que, mesmo sendo fêmea, não tenho aquele know-how de certos membros do meu género.

E eis que chegámos ao passo 3:
-- Se for mulher e se estiver a ter uma conversa chata com o patrão, mesmo a 2 metros um do outro, grite muito alto: “Não me toque! Se calhar tem razão no que está a dizer, se calhar eu até concordo consigo, MAS NÃO ME TOQUE!” Depois culpe a mãe dele/a pela pessoa que ele/a é. Vai correr tudo muito melhor. Ah, e leve o jornal, no caso de ele/a ser suicida e tentar mesmo algum tipo de contacto físico.
Se for homem, a coisa pode ser mais complicada, mas diga que se sente mais mulher hoje porque recebeu o resultado das análises e os seus níveis de estrogénio andam particularmente altos.

E pronto, aqui estão todas as ideias felizes que os meus neurónios debitaram nesta privação de sono. Espero que tenham lido tudo do início ao fim, para eu poder dormir mais logo com aquela sensação fofinha de que não só perdi o meu tempo a escrever esta trampa toda, como também fiz perder o tempo de pessoas que, antes de conhecerem o Gato Metaleiro, eram sãs de espírito.

São três e quarenta. Vou mas é dormir.

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