No outro dia li um livro chamado Velocity de um autor que aprecio bastante, Dean Koontz. Embora não tenha achado o livro nada de demasiado marcante - o Sr. Koontz tem outros livros mais empolgantes -, apreciei bastante o conceito principal do argumento, que se aplica, certamente, à vida: escolhas.
Todos temos que fazer escolhas ao longo da vida. O que vamos vestir, se viramos à direita ou à esquerda, se bebemos sumo ou água, se pegamos no carro depois de umas cervejas... As escolhas que parecem pequenas, se não soubermos de antemão que escondem consequências mais alargadas, parecem inocentes e fáceis; a estas reservamos as nossas escolhas mais distraídas e não nos preocupamos muito. Virar à direita pode implicar conhecer um amigo para a vida e à esquerda dar a vida por um estranho, e o pobre inocente, que apenas tinha saído de casa para comprar pão, escolhe uma rota sem saber o que o espera...
Ficar parado e esperar que o Fado escolha por nós é, também, uma escolha em si. Ao escolher a inacção, deixo que outras forças me rodeiem e se mexam por mim, perco e ganho oportunidades sem querer tomar responsabilidade com elas.
Ultimamente, reparei que me furto a escolhas culinárias. Não sabendo o que comer, escolho o mesmo que o vizinho. Não tendo imaginação ou grande apetite, pergunto ao cozinheiro o que ele acha que eu vou gostar e sigo o conselho cegamente. Pedir aos outros que escolham o que me entra no estômago, começo a achar, foi uma forma de lidar com as escolhas todas maiores que se estão a aproximar desta nova fase da minha vida. Ao ser obrigada a escolher as grandes coisas, o meu cérebro fez birra e decidiu que eu iria bloquear na escolha das pequenas.
Mas enganem-se os que acharem que isto era um sintoma de angústia perante o acto decisório, pois estava a adquirir o gosto por tomar as rédeas da minha vida e enfrentar as suas consequências.
Contudo, como todas as coisas na vida, também às vezes queremos fazer escolhas grandes que nos dizem directamente respeito e não podemos, porque nem tudo depende somente de nós. Era o paraíso se pudéssemos decidir que o parente que está a morrer de cancro vai viver, ou que o vizinho detestável vai deixar de ouvir música pimba às nove da manhã de Domingo. Há coisas que, envolvendo terceiros, não podemos dobrar, influenciar, ou decidir. E, aqui, às vezes temos que nos sentar e esperar que a escolha seja feita por nós.
Descobri que, apesar de recear tomar grandes decisões, receio ainda mais perder a liberdade de as poder tomar. Por um lado, se isto me fez ter mais coragem para escolher um ou outro caminho sem saber de antemão o que este me reserva, também me mostrou que, por mais que queira poder escolher, há certas coisas cujo futuro apenas se sabe se não escolhermos nada e apenas nos focarmos no momento. Como tudo na vida, o meio termo é-nos imposto, no sentido em que podemos escolher umas coisas, outras não, e outras ainda, escolhem os outros por nós - num país ditador ou democrático, eu posso escolher respirar ou chorar, mas posso não poder escolher morrer debaixo de um autocarro ou ser morta numa carreira de tiro.
E ainda dizem que não se aprende nada a ler romances...
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