Ontem tive que me deslocar ao Algarve para tratar de uns assuntos urgentes. Como porca capitalista que sou, ignorei a possibilidade de ir de transportes públicos (afinal de contas, o Algarve só existe em Agosto, ergo, os transportes de massas para lá também só se materializariam na mesma época…) e peguei no carro. Pus-me a caminho.
O primeiro relato digno de nota foi eu ter morto um pássaro. Não tive a culpa, o bicho fez mal a curva na estrada e, não conseguindo fugir ao carro, foi sugado para debaixo do capot. No entanto, apesar de ter a plena consciência que não havia nada que pudesse ter feito para evitar o fim ao animal, fiquei muito triste.
Os deuses, provalmente conscientes do meu beicinho*, resolveram ocupar-me a mente com outras coisas, e eis que a minha bexiga começa, vinda do nada, a queixar-se que precisa de ser despejada urgentemente. Estação de serviço a 10kms.
Chego ao destino, e vou logo para a casa-de-banho. A estação de serviço estava quase vazia, pelo que não foi surpresa não haver ninguém a usar as instalações sanitárias. Fiz o meu xixizinho, e o alívio fez-me subir a estupidez ao de cima.
Estava a dar uma música qualquer idiota, e eu resolvi ser duplamente idiota e dançá-la. Saí da cabine que estava a ocupar e dou conta de uma mancha de forma humana no lado oposto, mas só uns seis segundos depois de já estar a fazer figuras tristes. Raios, penso, fui apanhada. É engraçado como a mente humana funciona, não me importo de contar aqui as figuras de urso que faço, mas quando sou apanhada ao vivo a fazê-las, a história é outra.
Bem, paciência, suponho que as hipóteses de esta pessoa vir a ser alguém com uma importância-chave na minha vida é quase nula, por isso, que se lixe. Se me viu a dançar um pouco, pode ver mais. Fingi que não se passava nada, não olhei para a mulher, e continuei a minha dança parva enquanto lavava as mãos.
Contudo, volvidosuns segundos, o meu cérebro regista que há ali qualquer coisa estranha, que foi: a fulana estava ali, não fazia barulho, mas também não fechava a porta. Ora, se não fecha a porta, é das limpezas, mas se é das limpezas, como é que não faz barulho?
Virei-me. Não era uma mulher. Não estava nas limpezas. Era um homem. De costas. Com a cara virada para mim, a mirar-me com cara de caso. Com as calças em baixo. De rabo de fora.
“Isto não é a casa-de-banho dos homens?”, pergunta ele, atrapalhado, enquanto puxa as calças para cima.
Eu fiz automaticamente um ar de gozo (terá sido dos nervos?) e que disfarçou o pensamento-relâmpago que tive: querem ver que me enfiei eu no local errado? Olhei muito rapidamente à minha volta.
Quando percebi, respondi, aliviada, ainda com cara de gozo: “Não está a ver aqui nenhum urinol, pois não?” Os urinóis, essas benditas invenções, são o meu indicador de casa-de-banho de gajo. Sim, porque obviamente que já precisei desta valiosa informação para me dar conta, no passado, que me tinha enfiado, por engano, no WC alheio…
O homem murmura umas desculpas a meia voz, enquanto acaba de prender as calças e sai porta fora. Não parecendo ter confiado na minha sapiência em tom de urinol, lá vai o desgraçado confirmar que o engano é dele. “Pois,” oiço-o dizer lá fora, “enganei-me.”
Pois é. Mas se julgam que aqui fica o fim do meu relato, eu tenho, na verdade, algumas questões a colocar aqui!
- Como raio é que um homem, não vendo urinóis, não se apercebe que está algo errado?
- Como é que esse mesmo homem, não vendo urinóis, resolve usar uma sanita para fazer o mesmo que num urinol, mas não fecha a porta?
- Porque raio é que, se ele estava de pé, sinal de que ia verter águas, o rabo dele estava de fora? Não é suposto um homem masterizar a técnica da breguilha?
- Quem é que lhe disse que, vendo uma pessoa do sexo oposto, a melhor estratégia é ficar muito quieto e muito calado, esperando que isso sirva para despistar a outra pessoa?
- Tendo em conta o ponto 4, será que há homens que acham que a mulher é tipo T-Rex, ou seja, que só vê objectos quando eles se encontram em movimento?
- Porque raio perco eu tempo com estas inutilidades e, melhor ainda, porque raio as escrevo?
Aqui ficam as minhas dúvidas metafísicas. O que se passou, pergunto eu? E não, não era um exibicionista a fazer das suas.**
* - Só para esclarecer: sim, fiquei mesmo triste pelo pássaro. Tenho sempre pena quando um animal morre para rigorosamente nada, e ter sido eu o veículo (quase literalmente) responsável deixou-me de sobrolho carregado.
** - Como é que eu sei isso, perguntam os mais obstinados? As nádegas do homem não mentiam…
1 comentário:
Oh Leonor... Claro que o homem não se mexeu... que poderia ele fazer?! Eu falo por mim, se te visse a dançar não conseguiria mexer nem um unico membro... eh eh eh
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