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quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Finalmente, meninos e meninas!!!


Devem estar a estranhar este meu silêncio há tanto tempo. E, como quem me conhece poderá confirmar, eu não sou rapariga que consiga estar calada durante muito tempo...
Mas as razões eram as melhores! Andei a portar-me (mais ou menos) bem para poder apresentar os meus relatórios e me licenciar. Ah pois é!
Não vos quero maçar com pormenores insignificantes, mas devo dizer que fecundar os meus neurónios e a minha paciência de forma a conseguir parir páginas e páginas de material super inteligente e bonito de se ler (em especial quando o tema é algo tão alegre como a violência doméstica ou a depressão) não é tarefa fácil. No entanto, lá devo ter conseguido causar alguma impressão de jeito, porque os professores deram-me 16 por cada relatório, o que me fez crescer alguns centímetros de altura - agora já devo chegar ao metro e sessenta de altura... nah!
Em suma, estou licenciada. Lancem os foguetes! :)
Assim, e tendo em conta o meu incrível sucesso, resolvi apresentar aqui algumas dicas úteis para quem precise de passar por situações de escrita de relatórios. Como sou generosa, nem vos vou cobrar nada (embora, de acordo com as leis do Karma todos aqueles que lerem isto fiquem obrigados a me ofertar algo, como um carro, por exemplo).
Aqui vai:
Regras super importantes na escrita de relatórios
1. Ultrapassem sempre o limite de páginas ordenados pelos professores. Muito.
Quando eles dizem que não se pode passar das "x" páginas, que chumbam todos aqueles que o fizerem, bla bla, na verdade eles estão-vos a pedir o contrário: os professores admiram quem os desafia um pouco, por isso ultrapassem sempre esse limite. Se possível até, escrevam o dobro. Eles agradecem.
2. Utilizem palavras como "escatológico," "revérebro" ou "cognoscente" sempre que puderem.
Estas palavras mostram que quem escreve tem uma mente misteriosa e um pouco inacessível, tipo os pintores que cortam a orelha e as enviam por correio (ah, se houvesse e-mail na altura!).
O melhor mesmo era conseguir juntar estas palavras numa só frase, do tipo: "Eu estou cognoscente que o revérebro do meu fruto é escatológico."
Querem nota 20? Juntem a palavra "escatológico" ao nome dos professores nos agradecimentos... É o cúmulo da finura. A sério.
3. Façam bonecos nos rebordos das folhas.
Isto só demonstra, uma vez mais, que vocês são filhos da arte e que a criatividade é o vosso alimento. Por isso, ilustrem os vossos trabalhos com bonecos gráficos em cada recantozinho de papel alvo. Podem-se inspirar em livros como o Kama Sutra ou Justine do Marquês de Sade. Ponham legendas, não para se fazerem entender melhor, mas para acrescentar alguma obscuridade aos vossos manifestos: por exemplo, se ilustrarem o Kama Sutra, escrevam algo como "lembro-me tão bem desta!" e ponham o nome de alguém sexy ao lado só para dar charme.
4. Coloquem perguntas filosóficas a meio das vossas observações. Em especial, se não souberem justificar bem uma dada acção.
Esta dica é particularmente útil nos relatórios onde dados matemáticos têm de ser apresentados. Sendo fiéis à máxima de dar um bom desafio a um professor, substituam os números por nomes e, sempre que tiverem espaço, lancem as pertinentes questões "Será correcto, aos olhos da minha religião, fazer este tipo de observação? Que sentido tem tudo isto? Que sentido tem a vida?" - Qualquer professor perceberá que quem sente esta angústia existencialista só pode ser um génio e a nota máxima está assegurada.
Quando chegaram a um impasse e não sabem explicar algo que escreveram, não se remetam ao silêncio. Na verdade, gritem! Se puderem fazê-lo na presença de quem vos avalia, óptimo; caso não possam, substituam isso por mais angst filosófico e digam que fizeram isto e aquilo "porque aquela voz que fala comigo aos dias santos me ordenou." Quanto mais vozes disserem que têm, mais bónus recebem, claro, porque a nota tem de ser dividida entre essa gente toda aí dentro de vocês.
Claro que estas dicas só servem quando o relatório não é de filosofia. Neste caso, devem escrever fórmulas matemáticas para se justificarem. Falem de Einstein, que costuma sempre resultar em alguma coisa.
5. Acrescentem receitas culinárias às vossas conclusões e um provérbio.
Façam algo como isto: "Tendo em conta tudo o que foi acima referido, resta-nos afirmar que, à luz da temática abordada, o melhor caminho que propomos é usar 2 ovos, farinha a olho, uma chávena de leite, bater tudo e deitar numa frigideira previamente untada com..."
Finalizem com uma bela frase que abranja algo de sabedoria popular, algo sempre em voga nas Universidades do nosso país: "Posto isto, quem anda à chuva molha-se e quem tem telhados de vidro não deveria atirar pedras." Reparem que eu usei DOIS provérbios numa só frase. Isto demonstra que tenho um intelecto claramente superior, mas percebo que nem toda a gente consiga alcançar este nível.
6. Por fim... enviem tudo fora de prazo e com um telegrama cantado.
Os prazos de entrega são para os fracos, para aqueles que seguem a manada! Nós, os destemidos e que têm sempre nota máxima, não nos deixamos intimidar por estes pequenos pormenores! Entreguem tudo o mais tarde possível, quanto mais tarde, mais os professores vos admirarão e se lembrarão de vocês. Aí tipo um mês mais tarde estará na média.
A parte do telegrama cantado é mesmo para dar charme.
Se se sentirem com pouca imaginação, podem sempre escolher como tema uma canção dos cantores favoritos dos nossos ex-libris académicos, como o Toni Carreira ou a Ágata. Podem escolher também Irmãos Catita, que têm sempre letras ao nível de tão solene ocasião.
Se se sentirem imaginativos, criem a vossa própria música! Usem os nomes dos vossos professores, familiares e animais de estimação e sejam criativos. Pensem naqueles momentos em que chumbaram às mãos deles e inspirem-se. Se conseguirem uma letra assim ao som do Hino de Portugal, têm o trabalho garantido.
Se tiverem dinheiro, contratem um homem para ir cantar o telegrama directamente ao gabinete do professor, escolham a altura em que saibam que ele está lá (tipo durante uma reunião) e força aí! Se puderem meter as mãos aos bolsos, contratem aqueles cantores nus, que são sempre o cúmulo do bom gosto (e se estiverem dispostos a ir mais além, peçam ao artista para cortar a orelha enquanto canta, para máximo efeito visual. Pagarão um extra pela cirurgia reconstrutiva, mas pensem nos momentos fecundos que estão a ofertar aos professores).
E voilá! Espero ter sido útil. Caso experimentem estes conselhos, creio que aqui em Portugal os melhores hospitais psiquiátricos possuem internet, por isso dêm-me feedback acerca da vossa nota quando estiverem a repousar lá. E mandem um mail à Casa Branca a dizer que pretendem mandar uma bomba ao edifício, eles adoram uma boa piada (deixem a vossa morada e nº de telefone, claro, para eles vos felicitarem).
Antes que ordenem o meu abate, aqui vai uma nota de rodapé, coisa chique que os afamados escritores (e a TV Shop) gostam sempre de acrescentar às suas obras: a autora não se responsabiliza por quaisquer danos causados no processo de entrega de relatórios; a autora nega qualquer envolvimento com forças subversivas e criativas dos Marajás da Pérsia; a autora gosta muito de professores e não pretende tê-los à coca a mandar-lhe ovos (podem, no entanto, deixá-los à porta, que a autora recolhê-los-á para fazer omeletes); a brincadeira com a Casa Branca pretende fomentar o diálogo entre Portugal e os Estados Unidos da América, mas convém que quem seguir o conselho da autora afirme que esta ideia partiu dos extra-terrestres que os visitaram na noite de Lua Cheia (eu não tive nada a ver com isto tudo; aliás, eu não existo; o que significa tudo isto? Será que a minha religião me permite estar aqui, sequer?!)

3 comentários:

Anónimo disse...

Vou tentar um desses truques nos relatórios de química analítica! Nunca me iria lembrar de perguntar se o Inferno existe enquanto registava o valor da dureza da água da rede pública por quelatometria!


3 jolli!

Unknown disse...

LOOOL!!! Parabéns moça, pela licenciatura, e pela fantástica proeza de me fazeres ler este texto com 1 km até ao fim sem me dar conta que era tão grande!!! Tá um espectáculo. Pena que nenhuma das dicas seja apropriada para exames de piano, mas também já vinha fora do prazo, portanto não faz mal ;o) Bjs!

bixana disse...

LOOOOL!!! Já não ria assim há algum tempo!
Parabéns (atrasados, já sei) pelo fim de curso! E por este texto, já agora!!!