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segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Carta ao Menino Jesus

Querido Menino Jesus,

Vais-me desculpar não te ter escrito antes, mas tenho andado muito ocupada com aquilo que tu criaste: a mania das prendas! Pois é, vais-me querer negar que resolveste nascer no Natal só para teres as atenções todas?

Também tens que me desculpar nunca te ter escrito antes. É que sabes, o Pai Natal costuma ser mais fashion do que tu, anda mais nas bocas do mundo, é mais fácil lembrarmo-nos dele; além disso, sendo pagã, acho que ficava mal andar com grandes intimidades literárias (leia-se, troca de correspondência) contigo... não fosse o teu Pai fazer-me entrar em combustão espontânea antes mesmo de abrir os meus presentes, em jeito de castigo.

O ano passado escrevi ao Pai Natal, cheia de boas intenções, para lhe sugerir coisas que ele também teria direito a ter nesta época, mas o desgraçado do gorducho não me respondeu, vê lá. Assim, este ano resolvi dar-te atenção a ti, Menino Jesus, na esperança que sejas um puto mais fino e tenhas uma atitude mais como deve ser.

Tal como no ano passado, não te peço prendinhas. Já sou crescidinha o suficiente para saber a quem devo pedir essas, por isso vamos ao que interessa: eu quero é saber coisas! Dado que é Natal, e não se deve mentir (sabes que, sendo pequenino, se mentires, não recebes prendinhas, não sabes?), achei que seria a altura ideal para te colocar umas questões que só tu saberás responder, na tua infinita sapiência infantil:
  1. Quando nasceste e te deitaram numa cama de palha, a dita não te picava? É que estavas nú... aquilo devia ser um bocado chato.
  2. Quando percebeste que tinhas sido colocado num estábulo com uma vaca e um burro (falo dos animais, seus mal-intencionados!) não pediste o Livro de Reclamações?
  3. Falando em reclamações, tens alguma coisa a ver com a criação da ASAE? Se não, podias ser um fixe e dar uns açoites nalguns meninos que tiveram umas ideias um bocado estúpidas de proibir tudo o que é artesanal neste nosso Portugal?
  4. Quando te apareceram os Reis Magos, mijaste para cima de algum?
  5. Adivinhavas que, dois milénios depois, a malta se borrifasse para ti e pensasse mais no Pai Natal e nas prendas?
  6. Irrita-te essa coisa de a malta ter a mania de enfeitar as varandas com Pais Natal pendurados, mas nenhum Menino Jesus?
  7. Envergonhas-te por seres sempre representado com o pirilau de fora nesta altura do ano, e a levar porrada na Páscoa?
  8. O bolo-rei foi alguma prenda escondida de um dos Reis Magos? É que ouro, incenso e mirra... quer dizer...
  9. Tinhas alguma árvore decorada no teu estábulo? Bolinhas, enfeites, bonecos de neve?
  10. Não vais pedir ao teu Pai para me incendiar, pois não?

Desculpa lá não me alongar mais, mas o tempo urge e tenho que ir alambazar-me com o banquete, e depois com as prendas, e depois com mais comida, e depois um filme, e depois... espero que entendas, no Natal temos que dar atenção ao que realmente interessa.

Com carinho,

Leonor

Para os fundamentalistas religiosos: eu não me chamo Leonor, eu não existo, eu não estou no Sul do país neste momento. Na realidade, esta mensagem toda foi uma profissão de fé profundíssima, tão profunda, tão profunda, que é dogmática. Não questiones o que é sagrado, fundamentalista! Agora vai para casa chibatar-te e cantar músicas de Natal, vai.

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